Não sou católica. Não me lembro do meu batismo. Não consigo nem dizer quem são o meu padrinho e a minha madrinha. Talvez seja mais fácil dizer que não sou religiosa. Cresci com a religião como parte da minha vida, mas os anos me trouxeram o ceticismo. E, depois, o zen budismo. Ainda assim, quando escuto qualquer música sobre São Jorge, tremo. Comprei um vaso de espadas de São Jorge para colocar na minha sala. E tinha uma imagem de São Jorge no meu antigo apartamento. Eu ando vestida, armada e cercada pelas armas de São Jorge. Eu estou feliz porque também sou de sua companhia. Escutava "Ogum", de Jorge Ben Jor e Zeca Pagodinho, quando pensei sobre o porquê do meu apego a São Jorge. Estava no metrô lendo Lima Barreto. A verdade - ou uma delas - é que São Jorge me coloca em contato com o meu "eu" brasileiro. O meu eu que samba e que passa horas ouvindo Paulinho da Viola, Geraldo Filme e Cartola. Para quem mora longe do país que um dia foi casa, o vínculo que resta é o cultural. Vivo a comida, a literatura e a música brasileiras. Do lado de cá, sigo a vida vestida com as roupas e as armas de Jorge.
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10/7/2022 03:39:03 am
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AuthorBeatriz Rey is a political scientist and a writer based in Washington, D.C. Archives
February 2023
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