Hoje, no dia em que faço trinta e sete anos, deveria escrever um texto sobre o que vivi até aqui. Um texto sobre como minha vida se desdobrou de maneira surpreendente: na próxima semana, eu, que saí do Campo Limpo e do Capão Redondo em São Paulo, começo a trabalhar no Congresso norte-americano. Um texto para atualizar aquele que escrevi com dezesseis anos na beira do Rio Tâmisa (naquele dia, decidi que moraria fora do país). Mas não sinto vontade de falar sobre nada disso. Quanto mais envelheço, menos entendo sobre a vida. Mais olho para tudo com impotência. Eis a única coisa que parece fazer sentido: para viver é preciso encontrar atos de preenchimento. Diante da incapacidade de compreender o que somos no presente e no futuro (que inclui o pós-vida), faz-se necessário preencher. Ler. Estudar. Viajar. Ter um cachorro. Cuidar da família. Foi o que aprendi nesses trinta e sete anos. *Texto de 25 de janeiro de 2022.
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AuthorBeatriz Rey is a political scientist and a writer based in Washington, D.C. Archives
February 2023
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