BEATRIZ REY
  • Home
  • Research
  • Teaching
  • Courses
  • Policy
  • Journalism
  • CV
  • Blog
  • Contact

Random Notes

Thoughts on politics, fiction, and forgotten histories

Estudo sobre Nino Sarratore

11/7/2022

0 Comments

 
Picture
Eu gosto muito dos livros da Elena Ferrante porque ela retrata os homens como eles são: imaturos, egoístas e violentos. Sei que faço uma generalização com essa frase - meus dois irmãos, por exemplo, são o oposto disso - mas a verdade é que a massa dos homens pode ser descrita assim.

Passei muito tempo esse ano tentando entender se havia alguma qualidade redentora em Nino Sarratore, o homem que consegue desestabilizar até a fortaleza chamada Lila Cerullo. Que Lenù se desestabilize por Nino é esperado. Lenù é ingênua, romântica, aérea. Lila não. Lila sabe onde pisa e pisa com a certeza de se saber quem é. Ela amedontra os homens. Em The Story of the Lost Child, o último livro da série napolitana, Ferrante escreve (em inglês pois só tenho os livros nesse idioma): “she was the terrifying woman who, stricken by a great misfortune, carried its potency with her. (...) Lila walked along the stradone with her fierce gaze, toward the gardens, and people lowered their eyes, looked in another direction”. Essa é a Lila que cai na fantasia que Nino Sarratore promete. A fantasia de um homem culto, sensível, misterioso. Não demora muito para Lila descobrir que Nino é só fachada. Por trás do cabelo preto enrolado e dos óculos pequenos está um adolescente imaturo e sem responsabilidade emocional.

Nino passa pelas várias mulheres que aparecem nos livros da série napolitana como se elas não fossem mulheres, mas entidades fantasmagóricas. Quando Nino está tentando conquistar Lenù e acusa Pietro, o marido dela, de não apoiá-la profissionalmente, parece que ele, Nino, é um grande feminista. Mas quando está com Lenù, Nino sequer lembra que ela é escritora. O maior problema de Nino Sarratore talvez seja esse: ele despersonaliza cada uma das mulheres com as quais se relaciona. As bordas que definem as mulheres desaparecem. Lenù se sente burra ao lado dele. Ele faz com que Lila se sinta fraca. Escrever essas frases me deixa embasbacada porque as mulheres em geral sabem muito mais sobre a vida do que os homens. As bordas que formam as mulheres são fruto de amadurecimento precoce e constante (o que homens evitam a qualquer custo). O que Nino faz não é pouca coisa: ele desestrutura o produto do sofrimento de se ser mulher. E faz isso sendo um homem medíocre, medroso e incapaz de se responsabilizar por suas próprias ações. Ferrante escreve, “he was one of those adults who when they play with a child and the child falls and skins his knee behave like children themselves, afraid someone will say: It was you who let him fall.”

Lenù e Lila sofrem para lidar com Nino, mas ao fim do último volume, aceitam que ele é o que se revela em suas atitudes (e não em suas palavras): amargo, intratável e sozinho. Nino chega aos 50 anos desassociado de qualquer relação humana que tenha algum significado. Ferrante diz: “Nino was what he wouldn’t have wanted to be and yet always had been”. Como herança, Nino deixou a Lenù uma filha, Imma. Nem a filha parece gerar compaixão no pai. Em um determinado momento, Lenù pensa ter gerado Imma com um fantasma. “He forgot about us - Dede, Elsa, Imma, and me - for a long period. He probably forgot about us as soon as I closed the door behind him”, diz Lenù. Nino tenta transformar as mulheres com as quais se relaciona em fantasmas, mas é ele próprio o fantasma. As mulheres seguem, vivas e lembradas. Os Ninos desaparecem pelo ar, como se nunca nem tivessem existido.

0 Comments



Leave a Reply.

    Author

    Beatriz Rey is a political scientist and a writer based in Washington, D.C. 

    Archives

    January 2023
    December 2022
    November 2022
    July 2022
    May 2022
    April 2022
    March 2022
    February 2022
    January 2022
    December 2021
    November 2021
    October 2021
    August 2021
    April 2021
    November 2020
    October 2020

    Categories

    All

    RSS Feed

Proudly powered by Weebly
  • Home
  • Research
  • Teaching
  • Courses
  • Policy
  • Journalism
  • CV
  • Blog
  • Contact